19 de fevereiro de 2009

usos e costumes na igreja

Para Jeílson, pastor de uma igreja muito ativa e crescente, o dia começou como
tantos outros. Ao acordar pela manhã, ajoelhou-se ao pé da cama e orou. Logo à
mesa do café, começaram as muitas preocupações: notícias da congregação que
rejeitava o novo obreiro; problemas com o pedreiro na construção do templo; finanças
apertadas. No pequeno alpendre da casa pastoral, mais de uma dezena de irmãos já
aguardava aconselhamento. As necessidades eram as mais diversas: ajuda para
internar o filho doente; a nova convertida, proibida de participar dos cultos, queria
saber como contornar a antipatia do marido; um ancião precisava resolver a situação
da aposentadoria... Jeílson enfrentava com certa naturalidade aquele amontoado de
dificuldades; seu dia-a-dia já era assim há anos. Ele só não se preparara para a
notícia que receberia ainda naquelas primeiras horas do dia. "Miriam, sua filha mais
velha", relatou-lhe sua esposa, "cortou o cabelo".
Tudo, menos aquilo. Aturdido, sem acreditar no que lhe acontecera, Jeílson
abandonou seus compromissos, deixou todos os irmãos esperando no alpendre e
correu enfurecido pelo corredor até chegar ao quarto que ficava nos fundos da estreita
casa pastoral. Miriam - constatou ele - aparara de fato as pontas do cabelo. Desde a
infância de sua filha, Jeílson jamais permitira que uma tesoura tocasse nas mechas
castanhas que agora, aos 18 anos de Miriam, já alcançavam a cintura. Totalmente
descontrolado, Jeílson perguntou rispidamente, mas sem esperar resposta: "O que
você quer comigo? Está querendo envergonhar-me, acabar com o meu ministério?".
Movido por uma ira descomedida, desafivelou o cinto, dobrou em duas voltas e
bateu em Miriam até que os vergões se desenhassem em suas costas e pernas.
Envolvido pela mesma ira com que a surrava, desabafou: "Não vou tolerar uma desviada
dentro da minha casa. Enquanto você morar aqui, não vou admitir que corte seu
cabelo novamente, você está me ouvindo?". Ainda Ruborizado e com o coração
acelerado, voltou ao alpendre para tratar dos seus assuntos ministeriais.
Duas horas depois, recebeu a notícia mais devastadora de sua vida: Miriam havia
derramado álcool sobre todo o corpo e ateado fogo. Jeílson correu mais uma vez,
agora desesperado, e encontrou no mesmo quarto sua filha agonizando com quei4
maduras profundas. Naquele mesmo dia, à tarde, Miriam morreu no ambulatório de
um hospital.
Embora os nomes e alguns detalhes da história acima sejam fictícios, ela é
verdadeira. Aconteceu em alguma cidade do Brasil. Pior, ela se repete, claro que sem
os mesmos extremos, quase todos os dias em alguma família evangélica brasileira.
Retrata exatamente a severidade com que algumas denominações brasileiras
encaram o problema dos usos e costumes.
Sei de muitas jovens que hoje vivem longe de suas igrejas e totalmente
indiferentes à mensagem do evangelho porque sofreram exclusões e disciplinas
públicas quando foram vistas usando calças compridas, um colar ou até mesmo
brincos. Muitas vezes um jogo de futebol entre crianças ou soltar pipas ocasionam 45
minutos de repreensão do pastor. Em determinadas igrejas, raramente o sermão
expõe a Bíblia, pois quase sempre começa com um versículo e acaba tratando do que
pode e do que não pode. Alguns ficariam estarrecidos com o número de pessoas que
sai pela porta dos fundos de suas igrejas, rejeitando e odiando o cristianismo, devido a
esse rigor legalista sobre usos e costumes.

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aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna.
João 4:14

E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida.
Apocalipse 22:17
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