Certa vez, uma adolescente achou que sua família não estava levando em conta seus sentimentos. Na verdade, sentia-se incompreendida porque as pessoas não lhe davam ouvidos e a tratavam como criança. Daí declarou: “Eu tenho sentimentos, sabia? Eu sinto muitas coisas. Sou uma verdadeira adoles...sente!”
E você, adolescente, já se sentiu assim também? Como uma ilha de solidão, cercada de insensíveis de todos os lados?
Há quem diga que o sentimento adolescente é uma mistura de sensações infantis com percepções adultas, razão pela qual ninguém o entende muito bem. Será isso mesmo? Eu só sei que as crianças acham os adolescentes malucos, mas os adultos pensam diferente. Eles acham os adolescentes loucos.
Você concorda? Então vamos pensar juntos, pois este artigo fala um pouco sobre tudo isso, ou seja, sobre como é a vida adolescente.
Quem entende o aborrecente?
Há quem diga que o adolescente caracteriza-se por um comportamento de contestação, que o torna valente, vulnerável, volúvel e viciado em seguir líderes, grupos e modas, desenvolvendo preocupações ligadas à aceitação social e à aparência. Por isso o apelido... aborrecente!
A primeira coisa a ser dita, no entanto, é que o mundo adolescente varia de cultura para cultura. A própria noção de adolescência é uma construção social e cultural. Nos Estados Unidos, por exemplo, uma coisa importantíssima para uma adolescente é ser “líder de torcida”. Ou seja, ficar ao lado da quadra ou do campo, segurando uns pompons cor-de-rosa-choque, pulando, dançando e gritando umas musiquinhas do tipo: Os wildcats vão ganhar (viu o filme High school musical?).
No Brasil, qualquer um que fizer isso, do Oiapoque ao Chuí, logo saberá que está pagando o maior mico. Em nossa cultura, os costumes são um pouco diferentes, conforme verificou um pesquisador chamado André Francisco Pilon, que fez um estudo interessante no Município de São Paulo sobre o processo de maturação (processo em que você vai criando juízo) de adolescentes dentro de nosso meio social.
Pilon verificou que a escola, o trabalho, a vida familiar, as relações com o sexo oposto e as atividades de lazer são valorizados pelos adolescentes. Eles, de um modo geral, possuem uma auto-imagem positiva, buscam equilíbrio e realização pessoal em termos de maturidade emocional (amor, trabalho, relacionamento consigo mesmos e com os demais).
No entanto, há caminhos diferentes a serem trilhados em função da classe social de origem. Os de classe média possuem maior nível de escolarização e mais freqüentemente se beneficiam do apoio dos pais no processo de crescimento e desenvolvimento, inclusive no que diz respeito à escolha da profissão. Quanto aos amigos, eles são os que exercem maior influência, principalmente sobre o lazer e o entretenimento.
Quanto ao namoro, a pesquisa descobriu que, no caso das garotas, quem exerce grande influência no seu relacionamento com o sexo oposto são as próprias mães, ao passo que os rapazes são mais influenciados pelos colegas.
E o culto ao corpo?
Em função da televisão, dos artistas, atrizes e top models, todo adolescente tem em sua mente um corpo idealizado, e quanto mais este corpo se distancia do real, maior é a possibilidade de um conflito, comprometendo sua auto-estima.
De fato, há uma forte tendência social e cultural em considerar a magreza como qualidade ideal. De um modo geral, um gordo não é muito aceito.
Por falar nisso, a nutricionista Lucia Maria Branco fez uma pesquisa sobre como os adolescentes percebem o próprio corpo. Verificou que, se por um lado os rapazes têm o desejo de adquirir um porte atlético, as garotas, mesmo estando no peso ideal ou abaixo dele, às vezes costumam se sentir gordas ou desproporcionais, fato que os especialistas chamam de “distorção da imagem corporal”.
A grande questão é que a preocupação com a imagem corporal é um elemento característico da adolescência, sobretudo por ser a época da vida quando o corpo muda muito de forma. Nesse sentido há até uma certa contradição entre rapazes e garotas, pois a pesquisa verificou que enquanto que no caso deles há uma subestimação da própria condição (querem ser maiores e mais fortes), no caso delas há uma superestimação do corpo (querem ter uma silhueta menor).
E na igreja?
E os adolescentes da igreja, o que pensam? A líder dos adolescentes de minha igreja colheu alguns depoimentos. Veja os relatos a seguir e reflita.
Vida de adolescenteDepoimento de Josélia M. Antônio
Vida de adolescente não é fácil. Temos que saber organizar muito bem as nossas tarefas diárias: acordar cedo para estudar e, no caso de ter um emprego, sair da escola e ir direto para o trabalho. À noite, único tempo vago desde cedo, é preciso fazer os deveres de casa. É assim a semana toda, pelo menos de segunda à sexta.
Finalmente chega o sábado, um dia excelente para sair, dormir até tarde e fazer o que a gente quer. Mas, para os que não querem ficar mal na escola, significa mais estudo. Para aqueles que gostam de se divertir, é um dia para ficar fora de casa, ir à praia, ir ao cinema e sair com os amigos.
Domingo, para os religiosos, é dia de ir à igreja. Para os que não são religiosos, é mais um dia para diversões. E assim, enquanto que o cristão está na igreja, o não-cristão está na rua, na praia, no shopping... O domingo, para ele, é apenas mais um dia para se divertir.
Segunda-feira. O estudante cristão chega à escola cansado de estudar no sábado (no domingo está envolvido com as atividades da igreja), enquanto que o estudante não-cristão está cansado de tanto se divertir no final de semana.
Depoimento de Fernanda S. do Nascimento
Adolescente, um ser cheio de idéias. A maioria dessas idéias não passam de bobagens.
A adolescência é a melhor fase da vida. É a fase de só pensar em se divertir. É também uma fase de pensar no futuro, nos estudos. Por falar em estudos, nos vem à mente a carreira profissional.
A adolescência é também a fase de fazer escolhas. Quando eu era mais nova, a partir dos 13 anos, eu vivi muitas aventuras, namorei muito, me diverti muito, mas também fiz muitas burradas, que me ensinaram algumas lições. Mas dentro de mim, eu sei que ser uma adolescente é muito bom. Mas a melhor coisa é ser uma adolescente serva de Deus, porque as adolescentes que não conhecem a Jesus extrapolam muito nessa fase.
Depoimento de Aline S. de Jesus
Hoje não estou de bom humor. Não agüento mais! Não consigo entender o que esperam de mim e o que querem que eu seja ou faça! É muito difícil. Se discuto com meu irmão mais novo, ouço aquela famosa frase: “Você já é bem grandinha.” Por outro lado, se quero sair à noite para me divertir com os amigos, não posso porque ainda sou muito nova, uma criança. Afinal, o que eu sou? O que é ser adolescente?
Estava conversando com a Paula e ela me disse que a mãe dela é assim também. Eu não acredito porque, sempre que vou à casa dela, a mãe dela é super legal. Queria que minha mãe fosse como a dela. Minha prima, que já é bem mais velha, disse que é sempre assim, que sempre achamos que a mãe dos outros é melhor, mas na verdade todas as mães são iguais. Eu não acho!
Hoje, no colégio, foi um saco! Não agüento mais estudar! Escola é legal, mas estudar é que são elas... O pior de tudo é que hoje foi o dia daquela prova de matemática insuportável . Acho que fui mal e, se tirar nota vermelha, não quero nem pensar. Vai ser o resto do ano sem Internet. Eu não mereço. Como vou viver? Não imagino minha vida sem meu computador. Acho que vou morrer se isso acontecer.
O dia, hoje, foi um tédio. Espero que amanhã seja melhor.
E você, se fosse escrever o que é vida de adolescente, o que diria?
Alexandre de Carvalho Castro
Pastor – Psicólogo – Professor
Rio de Janeiro – RJ
Fonte: UFMBB
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