11 de maio de 2011

As marcas das palavras

 
 Amamos nossos filhos, queremos o melhor para eles, mas às vezes agimos como se o amor encobrisse o peso das nossas palavras e ações. Não temos consciência do quanto os atingimos com o que fazemos e dizemos. A palavra é um instrumento, e como tal, tanto pode ser usada para o bem quanto para o mal. Ela também tem o poder de destruir, arruinar, deprimir, de causar toda sorte de dor à alma de alguém, podendo deixar profundas marcas."Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no dia de juízo; porque pelas tuas palavras serás justificado, e pelas tuas palavras serás condenado."(Mt 12. 36,37).Jesus nos chama a atenção para termos cuidado com cada palavra que sair de nossa boca, porque Ele sabe a força que ela tem. Já ouvi muitas histórias envolvendo o misterioso poder das palavras. Uma delas foi sobre um rapaz que viveu há alguns anos numa pequena cidade do interior. Ele possuía no braço direito, na região do cotovelo, uma estranha mancha, como se fosse o pêlo de um animal no lugar de pele. Isto o deixava muito constrangido e para dificultar sua situação, ele tinha um vizinho que, sempre que o via, não perdia a oportunidade de humilhá-Io, de zombar dele por causa daquele sinal. Depois de algum tempo suportando calado as humilhações, este rapaz reagiu e cheio de ódio, disse ao homem:
– Cuidado, porque de onde veio esta marca, tem outra para você.
Depois de algum tempo, este homem, que o importunava, teve uma filha e para seu grande espanto, ela nasceu com uma marca idêntica, localizada exatamente na mesma posição que a do rapaz.
O poder da palavra é realçado em várias passagens por toda a Bíblia. Em uma delas, Jesus mostra isto com muita ênfase. Quando seguia em direção a Jerusalém com seus discípulos, Ele passou por uma figueira que não tinha frutos e a amaldiçoou dizendo: "Nunca mais coma alguém fruto de ti". Na volta da viagem, ao passar pelo mesmo lugar, Pedro observou que a figueira estava completamente seca e entendeu que foi em conseqüência da palavra proferida por Jesus.
Ele sabia que não era tempo de dar fruto, portanto compreendemos que não havia intenção simplesmente de castigar a figueira e sim demonstrar a força e o poder que há no que se diz.
Além da força que a palavra traz em si, sua influência pode ser muito mais devastadora dependendo de quem as profere, do significado que tem para nós a pessoa que a proferiu. Uma criança, por exemplo, pode ficar muito ferida com o que um colega tenha dito, ou até um desconhecido. Mas quando certas coisas são ditas pelos pais ou por pessoas muito importantes para elas, a força é extremamente maior, o significado é muito mais forte, deixam raízes muito mais profundas.
Há pouco tempo atendi uma mulher de 48 anos que tinha muitas barreiras em sua vida, geradas pelo turbulento relacionamento com sua mãe. Ela contou sobre as várias vezes que sua mãe lhe bateu, por pequenos motivos, e a mágoa que isto lhe deixou. Sobre as surras que levou quando tinha menos de 10 anos de idade. Mas nada feriu tanto quanto as palavras que sua mãe lhe dizia. Entre outras coisas, ela repetia, a cada briga, que a filha da vizinha era ótima, a da fulana era excelente, mas que a dela era a pior pessoa do mundo. E falava exatamente com estas palavras:
– Você é a pior pessoa do mundo, eu não conheço criança nenhuma tão ruim quanto você.
Palavras duras despertam raiva levando a atitudes de rebeldia. "... A palavra dura suscita a ira".(Pv 15. 1) Esta moça, quando era pequena, dizia a si mesma que um dia ainda ia fazer algo de muito ruim para mostrar a sua mãe o que é realmente uma pessoa má. E muitas vezes, movida pela revolta, agiu com extrema agressividade. Como não conseguia atingir a mãe diretamente, feria a si mesma. Chegou até mesmo a pensar em se matar com a intenção de se vingar de sua mãe.
As pessoas são criticadas por suas atitudes, mas ninguém sabe das mágoas que motivam estas ações. Certas palavras ditas pelos pais deixam feridas abertas por longos anos ou para sempre levando os filhos a agirem de forma a serem julgados mal, por todos. Uma jovem, na adolescência, foi vista pela mãe com um namorado, e ouviu palavras muito fortes que a machucaram profundamente. Sua mágoa foi tão grande que ela disse a si mesma que seria exatamente aquele tipo de filha que sua mãe pensava que ela fosse e suas atitudes, a partir daí, passaram a ter o propósito de ferir quem a havia ferido.
Muitos contam sobre as vezes que apanharam, sem demonstrar revolta, ou mesmo dizendo que fizeram por merecer. Contam rindo sobre as surras que levaram, mas não conseguem apagar a tristeza de algumas coisas que ouviram. As palavras certamente ferem mais que a vara.
Meu pai conta que, quando era pequeno, não importava qual dos irmãos começava a confusão, todos, que quase formavam um time de futebol, entravam numa fila, para apanharem juntos. A surra era por atacado e cada um tinha que escolher sua própria vara. Aquele que escolhesse um varinha fraquinha, apanhava dobrado. Isto não adiantava muita coisa porque, como ele conta, eles continuavam armando confusões e inventando brincadeiras perigosas e, sem dúvida, emocionantes. Uma das preferidas era entrar em um barril no alto do morro e rolar de lá de cima até cair dentro do rio. As surras não foram capazes de conter o espírito de aventura, o que os levou a apanhar muito. Mas isto não foi problema para sua mãe porque eles moravam na roça e tinham vara com fartura.
Mas o interessante é que ele conta estas histórias achando graça, sem nenhum rancor. Isto não foi suficiente para contaminar as boas lembranças e o carinho que ele tem por seus pais.
Não estou defendendo que a melhor maneira de resolver as coisas é batendo. Acredito que na maioria das vezes não resolve nada. Como já disse, estou apenas tentando mostrar que determinadas palavras têm o poder de ferir muito mais que muitas varadas. A dor do corpo pode passar com o tempo, mas a dor da alma, às vezes, nem o tempo pode curar.
Numa conversa que ouvi entre dois garotos, um deles disse:
- Eu prefiro quando meu pai me bate do que quando ele zanga comigo.
É claro que boa coisa ele não devia ouvir. O fato de a criança apanhar dá a ela a sensação de ter pagado pelo erro, alivia a consciência. Mas quando ouve uma bronca dos pais, dependendo do que eles dizem, sua culpa se torna maior.
É bom lembrar que quando digo "bater", estou me referindo às chineladas, muitas vezes inevitáveis, e não a espancamento, que infelizmente é o que fazem alguns pais descontrolados e desequilibrados emocionalmente.
O diálogo é a melhor solução. Porém, se não conseguirmos evitar uma atitude mais enérgica, é importante lembrar que não podemos bater de qualquer jeito. Quando um pai bate, por exemplo, no rosto de um filho, a única coisa que ele consegue é humilhar e despertar muita raiva na criança.
Quando um pai bate, movido pelo ódio, corre o risco de passar dos limites e se arrepender depois, além de não conseguir ensinar a criança o que ela precisava aprender.
A Bíblia nos ensina a não usar as mãos para bater numa criança e sim a vara. É porque as mãos têm que estar associadas ao carinho, ao afeto e não à agressividade. Talvez a Bíblia se refira a vara porque naquela época não havia chinelos. As sandálias eram de couro e amarradas aos pés, o que deveria dificultar seu uso para estes fins, e as varas deveriam existir com fartura. Para os que vivem numa cidade grande, fica difí­cil conseguir varas, por isto o chinelo é o que funciona.
Num congresso de terapia familiar, há algum tempo, alguém perguntou a um importante terapeuta se ele era a favor de se bater nos filhos. Ele respondeu que não aconselha nenhum pai ou mãe a agir desta forma, mas disse que quando era criança levou uma surra de seu pai, por ter feito algo muito errado. E acrescentou que hoje é um homem de bem, que não entrou num caminho errado graças à atitude enérgica de seu pai.
É preciso ter ponderação, saber a melhor maneira de agir em cada situação. Quem bate por qualquer coisa, com o tempo perde o respeito dos filhos. Eles se acostumam com as surras. Com bom senso, cada um pode encontrar a forma mais adequada de agir em cada momento.
Seja qual for a situação, é preciso ter consciência de que não podemos agir impulsivamente. Não podemos nos esquecer de que ferimos, com atitudes e com palavras, de forma marcante.
Mesmo já tendo usado o chinelo algumas vezes, eu creio que podemos ensinar qualquer coisa aos filhos com diálogo, carinho e compreensão.
Nota da Redação:
Texto reproduzido, com permissão, do livro O Poder da Palavra dos Pais, de autoria da Dª Elizabeth Pimentel. Paulínia, SP: Apta Edições, 2005, 4ª ed.. Fonefax: (19) 3933-3277 – 3933-3541 – e-mail: editora@aptaedicoes.com.brEste endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. e editoravox@terra.com.br

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aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna.
João 4:14

E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida.
Apocalipse 22:17
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