11 de maio de 2011

Revivendo a reforma e a ação social

 
Neste estudo exploramos o modelo triádico* dos reformadores. Ele define o pensamento com que os reformadores protestantes do século XVI fizeram o trabalho de ação social. Ele é expresso na teologia, na economia e na política, mostrando que eles estavam preocupados não apenas com a reforma teológica (a área espiritual da vida), mas com seu impacto sobre todos os segmentos da sociedade. Este artigo debate o reavivamento do modelo triádico e as implicações no trabalho de ação social.
Revivendo a Reforma
Em Salmos 40.10, Davi expõe seu coração: "Não oculto no coração a tua justiça; falo da tua fidelidade e da tua salvação. Não escondo da grande assembléia a tua fidelidade e a tua verdade." Homem preocupado com as causas sociais, ele trata de justiça, fidelidade, salvação e zelo pela verdade. Estes temas nos levam a refletir: Como definimos os problemas da sociedade?
A igreja vai desafiar os modelos existentes ou vai andar com eles; ou, pior ainda, vai enfiar a cabeça na areia e tratar apenas da área espiritual, esquecendo a mordomia em todas as demais áreas da vida? Qual nosso papel dentro do cenário nacional e mundial?
Vivemos época cheia de desafios e emoções. Ideologias políticas estão desmoronando, há guerra de idéias entre o espiritual sagrado. Também hoje, muitas igrejas ainda se concentram somente na área espiritual, desprezando a realidade física na qual vivemos, e isto torna a igreja lastimavelmente irrelevante.
Os Três Lemas da Reforma
O modelo triádico da Reforma foi articulado em três lemas: "Solo Christo, sola fide, sola criptura"** (lema teológico), "Trabalhe o máximo que puder, economize o máximo que puder, dê o máximo que puder" (lema econômico); e "Toda pessoa é pecadora" (lema político). Examinemos cada um deles.
Solo Christo, sola fide, sola Scriptura
A pedra fundamental da nossa salvação, a fonte da nossa reconciliação com Deus é somente Cristo (João 14.6). Jesus não é um de muitos caminhos para Deus, Ele é o meio de salvação de Deus para o homem. Isto também é diferente de qualquer mistura com Cristo (i.e. "Cristo mais alguma coisa": Cristo e César, Cristo e o estado, Cristo e Mamom). César não queimou os cristãos nas estacas porque eles cultuavam a Cristo, mas porque se recusavam a cultuar também a César.
Escolher Cristo é rejeitar tudo o mais e os reformadores entenderam esta mensagem. Hoje, a tentação (e muitas vezes a realidade) na igreja é cultuar a Cristo e o materialismo. Queremos ser cristãos só enquanto nosso estilo de vida materialista é melhorado e não desafiado.
Os reformadores entenderam a mensagem de Efésios 2.8-9: quando nos aproximamos do trono da graça, chegamos de mãos vazias. Nossa salvação está em Cristo, sua obra completa, e não em nossas obras. Isto contrasta com os sistemas de crença que dizem que os sacramentos
salvam, penitências salvam, boas obras salvam ou até mesmo a correção teológica salva. Da mesma forma, "só a fé" contrasta com a noção humanista de que "o homem é bom por natureza", que o saber, a vontade e a tecnologia podem garantir a evolução do homem e da sociedade perfeita – a fé bíblica é contrária a todos estes argumentos.
As Escrituras são autoridade final para todos os assuntos de fé e prática. A revelação de Deus provê o fundamento para o conhecimento e a razão humana. Sem a revelação transcendente, o conhecimento, história e moral não teriam nenhum significado (2Timóteo 3.16 e Atos 17.11). Isto contradiz a autoridade final de homens dentro da igreja, bem como o relativismo que diz: "o ser humano é a medida de todas as coisas". Há governos em que o estado é a medida de todas as coisas. Na modernidade, os "especialistas" são a autoridade final de todas as práticas.
A plataforma teológica estabelece forte fundamento para a vida, política e economia, mostrando a importância da Bíblia em todas as áreas da vida.
Trabalhe o máximo que puder, economize o máximo que puder, dê o máximo que puder.
O lema econômico foi articulado por Charles Wesley durante a Reforma da Igreja na Inglaterra. Ele mostra que Deus é criativo e esta característica foi transmitida ao ser humano através do trabalho (Gênesis 1.28). Trabalho é chamado e dá dignidade ao homem, é parte crucial da nossa imitação e adoração do Criador.
Os reformadores entenderam que cada pessoa recebeu um "chamado"; por exemplo, o fazendeiro deve ordenhar o seu gado e plantar o seu campo "como ao Senhor". É o oposto da idéia de que só pastores e missionários têm chamado sagrado, e da mentalidade que considera o trabalho como "maldição", ou que se trabalha apenas para sobreviver. Na sociedade materialista, o lema é trabalhar o mínimo que puder, ganhar o máximo que puder, e gastar tudo. Que desvio do padrão defendido pelos reformadores!
Trabalhar gera lucro. Mas, o que se deve fazer um com o excedente? Os reformadores disseram "economize". Esta idéia se vê quando Deus revelou a José o significado do sonho do faraó (Gênesis 41). Para enfrentar os sete anos de escassez era preciso economizar durante os anos de fartura. Isto contrasta com a extravagância de igrejas e sociedades que se estabelecem como sistemas de poder e riqueza, expressando o ditado: "No fim, ganha aquele que tem mais brinquedos". Devemos trabalhar arduamente e viver estilo de vida simples que leva à geração de capital. Mas, o que se deve fazer com este capital?
A geração de riqueza combinada com estilo de vida simples, não-aquisitivo e não-consumista proporciona capital para outros. A idéia bíblica de caridade e desenvolvimento permite que o capital acumulado esteja disponível para suprir as necessidades de outros (1João 3.16-18). Os recursos que sobram para mim são para suprir as necessidades de outros.
Isto se aplica obviamente a recursos materiais, mas também pode incluir o capital de conhecimento, tempo, talentos, dons espirituais, discernimento de situações e relacionamentos. Mesmo sendo financeiramente pobres, não estamos isentos de testemunhar no espírito macedônio (2Coríntios 8.1-2).
Capital conquistado através de trabalho árduo e poupança deve ser usado para suprir as necessidades de outros. Isto acontece de duas maneiras. Primeira, através da caridade para o pobre merecedor ou a "viúva de fato". O povo de Deus tem a responsabilidade de cuidar dos que não podem cuidar de si mesmos.
Porém, a caridade não é para o pobre indigno, o que tem capacidade para trabalhar, mas que se recusa a assumir a responsabilidade por si mesmo ou pela própria família. Dar a estas pessoas é tirar sua dignidade e criar paternalismo e dependência. A segunda utilidade do capital é prover dinheiro-semente para negócios novos ou investimento em educação, saúde, artes, pesquisa e atividades de ministério.
Em outras palavras, capital deve ser usado para desenvolvimento, para edificar pessoas, instituições e comunidades. Economizar o máximo que puder contrasta com o acúmulo mesquinho e o crescente consumismo.
Toda pessoa é pecadora
O lema político está fundamentado no entendimento de que toda pessoa é pecadora (Romanos 3.23, Gênesis 6.5-6).
A profundidade e a extensão da rebelião defensores da herança cristã e defensores do secularismo. Como recente conquista da humanidade, temos capacidade técnica para acabar com a fome. Mas, ao mesmo tempo, como a igreja vai responder ao grito angustiado das pessoas que continuam sofrendo de forma tão angustiante?
O estudioso Michael Novak escreveu sobre a influência das idéias e valores no desenvolvimento econômico. Em um dos seus livros, The Spirit of Democratic Capitalism [O Espírito do Capitalismo
Democrático], ele escreveu: "Não faz muito tempo, os Estados Unidos eram colônia da maior potência da Europa ... presos na mesma pobreza e subdesenvolvimento de outras nações. Eram tão pobres quanto as colônias da Espanha e de Portugal na América Latina. As Américas do Norte e do Sul, igualmente colônias e igualmente subdesenvolvidas, foram fundadas sobre duas idéias
radicalmente diferentes da economia política. Uma tentou recriar a estrutura político-econômica da Ibéria feudal e mercantilista, a outra tentou estabelecer uma novus ordo seclorum, uma nova ordem, em torno de idéias nunca antes imaginadas na história humana."
Os dois conjuntos de ideais apresentaram resultados totalmente diferentes. A América do Norte tornou-se mais rica e com mais liberdade do que a América do Sul! Por quê? A explicação de Novak é que os princípios da Reforma Protestante – a ética protestante manifestada não só na teologia, mas na vida político- econômica do hemisfério norte, produziu resultado muito diferente dos valores e ideais da Igreja Católica Romana, manifestados na Europa Meridional e na América do Sul. Isto foi constatado por Novak, escritor católico romano.
A Reforma do século XVI no hemisfério norte gerou era sem paralelos na história. Foram estabelecidos valores que acabaram com a fome e a pobreza do cidadão comum. Essa era foi marcada por liberdade e oportunidade, aprimoramento da ciência, geração de riqueza e impacto na saúde, alfabetização, educação, produção agrícola e desenvolvimento geral. Que valores e ideais
são estes? Quais foram os princípios da Reforma? Eles podem ser revividos e aplicados na nossa geração? Podem ser adaptados às presentes necessidades do mundo faminto? Temos certeza de que podem e devem ser revividos.
Uma revolução para mudar as estruturas não é o suficiente para promover liberdade e prosperidade. O problema está na mente e coração das pessoas que constroem e controlam as estruturas. Assim, é necessária uma Nova Reforma.
Modelo Triádico da Reforma
As Reformas Protestantes tiveram impacto em três áreas: teologia, economia e política. Estas três esferas formam um modelo triádico dinâmico. A esfera teológica proporciona alicerce para o econômico e o político. O mundo ateísta e materialista rouba das esferas políticas e econômicas o seu fundamento teológico e moral e o resultado é a tendência para definir problemas em condições unicamente físicas e soluções meramente materiais.
De modo semelhante, há perdas se situações são vistas em termos unicamente espirituais. Este foi o caso dos gregos que consideravam o físico profano e do homem contra Deus foram entendidas pelos reformadores como "depravação total", pois o pecado tocou todas as áreas da vida. Isto não significa que o ser humano não tem valor. Pelo contrário, é a coroa de toda a criação e leva consigo a imagem de Deus.
Por causa do entendimento da depravação do ser humano, os reformadores reconheceram a importância de impedir que qualquer pessoa tivesse poder ilimitado na igreja ou na sociedade. Como o filósofo e historiador inglês, Lord Acton (1834-1902), resumiu na declaração: "O poder tende a corromper e o poder absoluto corrompe absolutamente". Para se opor a esta tendência, os reformadores enfatizaram o "sacerdócio dos crentes" na igreja e desenvolveram um sistema de averiguações na vida política (1Pedro 2.4-5, 9- 10, Efésios 1.22; 4.11-13).
O modelo da Reforma está em oposição ao do humanismo moderno. Neste, o ser humano é bom, as estruturas são corruptas e o problema da pessoa está fora dela. Este é o sonho fracassado dos sistemas políticos. Falham porque são baseados em premissas defeituosas. Por isso, o lema político "todas as pessoas são pecadoras" reconhece a necessidade de proteger o ser humano dele mesmo.
Conclusão
O mundo e a igreja estão em uma encruzilhada. O mundo está no meio de mudanças sem precedentes. A política derrubou os ideais das promessas. O mundo está à beira da morte, mas
com recursos que podem lhe garantir a vida. A igreja tem mensagem vital para o mundo doente. Ela começa com "Cristo e Ele crucificado" e continua com o serviço por um mundo que corresponda ao padrão divino. A esperança jorra da transformação do coração e da mente e da correspondente revolução da vida e da cultura. O novo reformador dispõe do modelo triádico para agir. A igreja vai liderar ou vai seguir o mundo? A escolha é nossa!
Darrow L. Miller
Colaborador na DNA, Disciple Nations Alliance

Eleuza Alves de Oliveira
Membro da Igreja Batista Capela da Videira em Curitiba
Representante da Harvest Foundation - www.harvestfoundation.org
* Modelo triádico: Que tem três elementos. Neste caso, teológico, econômico e político.
** "Solo Christo, sola fide, sola Scriptura": Só Cristo, só a fé, só as Escrituras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna.
João 4:14

E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida.
Apocalipse 22:17
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

whos.amung.us