Rev. Paulo
R. B. Anglada
A revelação bíblica é
progressiva. A nossa compreensão dela também. Com o passar dos séculos, a
igreja avança na sua compreensão da Palavra de Deus. A hermenêutica tem feito
considerável progresso, tanto no campo da lingüística, como do conhecimento do
contexto histórico-religioso das épocas. Isto, sem dúvida, nos obriga
constantemente a rever algumas interpretações.
Por outro lado, é inegável,
também, que as filosofias e costumes contemporâneos exercem forte influência
sobre a nossa interpretação bíblica. Não se pode imaginar, por exemplo, que a
igreja esteja imune à influência do movimento feminista moderno. Nem é de
estranhar que numa época em que as mulheres reivindicam e assumem cada vez mais
papéis e posições que antes lhes eram negados, as igrejas sejam levadas a rever
a sua interpretação sobre a questão da ordenação feminina ao ministério
sagrado.
É indiscutível que o Novo
Testamento reconhece e eleva a dignidade das mulheres a um patamar bem superior
ao anteriormente concebido. No que diz respeito à dignidade, na igreja
"não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem
mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus" (Gl 3:28). Também não se
pode negar que as mulheres, tais como Lídia, Priscila e muitas outras, tiveram
participação ativa e importante na igreja primitiva.
Não obstante, parece
inegável, também, que o Novo Testamento reconhece e mantém uma distinção
funcional entre os gêneros, tanto no âmbito do casamento (Ef 5:22-24), como da
igreja. Esta distinção, na qual o homem é o cabeça e a mulher uma auxiliadora,
não pode de modo algum ser explicada em termos de contexto histórico (ou
preconceito) antigo. A explicação bíblica para esta distinção é encontrada na
própria criação, quando Deus criou a mulher como "uma auxiliadora
idônea" (Gn 2:18) — idônea, sim,
à sua altura, digna; mas auxiliadora,
alguém que ajuda, assiste.
É verdade que, por causa da
queda, esta distinção funcional original adquiriu outra conotação. A submissão
da mulher tornou-se um castigo: "O teu desejo será para o teu marido, e
ele te governará" (Gn 3:16). A liderança do homem também: "em fadiga
obterás o sustento durante os dias da tua vida... no suor do teu rosto comerás
o teu pão" (Gn 3:17,19). É verdade, também, que o preconceito e abusos da
tradição judaica, e mesmo gentílica, contra a mulher agravaram ainda mais a
situação.
Entretanto, parece evidente
que a tese da ordenação feminina ao ministério se deve não a uma
reinterpretação necessária do ensino bíblico, motivada por novas descobertas
lingüísticas ou históricas, mas à influência inquestionável do moderno
movimento feminista ocidental. O ministério do governo eclesiástico, conferido
a pastores, presbíteros, ou bispos — os termos são sinônimos no NT (ver At
20:17,28, Tt 1:5-7 e 1 Pd 5:1-4) — e da pregação e ensino, conferido aos
ministros da Palavra (ver 1 Tm 5:17), uma especialização do ofício do governo,
é responsabilidade de homens no NT. Não apenas em nenhuma passagem do NT estes
ofícios são conferidos a mulheres, como também os critérios indicados para a
escolha desses oficiais determinam que sejam "esposos de uma só mulher...
e que governem bem a sua própria casa" (1 Tm 3:2,4; cf. Tt 1:6).
Qual a explicação bíblica
para a limitação do ofício de governo eclesiástico e da Palavra aos homens?
Tradição? Costumes judaicos? Não. Poucos versos antes destas instruções a
Timóteo, Paulo proíbe à mulher de falar publicamente e de exercer autoridade
eclesiástica: "A mulher aprenda em silêncio com toda submissão. E não
permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade sobre o marido: esteja,
porém, em silêncio" na igreja (1 Tm 2:11; cf. 1 Co 14:34-35). Por quê?
Qual a explicação de Paulo para tal proibição? A resposta está nos versos
seguintes: "Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi
iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão" (v. 12-13). A
explicação de Paulo para a distinção funcional entre o homem e a mulher na
igreja está no Éden; na queda e, especialmente, na criação: primeiro foi criado
Adão, e depois Eva, como auxiliadora idônea — idônea, sim; mas auxiliadora.
Se quisermos nos conformar
com este século, ordenemos mulheres ao ministério. Se desejarmos permanecer
fiéis à vontade de Deus revelada nas Escrituras, que as honremos como dignas
cooperadoras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário