Não
é possível para nenhum de nós deixar passar despercebidamente o que tem
acontecido em nossa sociedade nestes últimos dias. Foi com muita indignação e
frustração que lemos nos jornais e vimos as cenas na TV, do desfecho do
seqüestro do ônibus no Rio de Janeiro.
Pior
ainda é ver que a classe política e também nós cidadãos de uma maneira geral,
nos tornamos insensíveis a tudo isso que tem acontecido em nossa sociedade.
Parece até que perdemos a capacidade de nos indignar contra este tipo de coisa.
Esta
barbaridade, se tornou tão comum em nosso meio, a televisão banalizou de tal
forma a violência, que para a grande maioria de nós esta foi mais uma tragédia
dentre as muitas que acontecem todos os dias no Brasil. As cenas do policial
vindo em direção ao assaltante e disparando nele, mais pareciam as cenas de um
filme policial qualquer de Hollywood, que já nem mexem mais com nossa
sensibilidade ou nossa capacidade de
ficar indignados.
Diante
dessa gigantesca tragédia social em que todos nós estamos imersos, parece-nos
que uma das alternativas que encontramos é ser indiferentes a esse tipo de
realidade que nos cerca e continuar a nossa existência fingindo que tudo isso
não nos afeta. Enclausurados em nossos castelos e ilhas de prosperidade,
cercados por todos os lados de pobreza e miséria estamos seguros.
Ainda,
um outro sentimento que talvez permeie as nossas mentes, nessas horas seja o da
impotência, de não poder fazer nada, de não poder mudar nada, de não poder
levantar a voz e ficar quietos, porque afinal de contas quem somos nós para
mudar alguma coisa?
Qual
deve ser a postura do cristão em meio a toda essa violência que nos cerca? Qual
a postura que a comunidade cristã deve assumir diante de tudo isso? Como
podemos nos fazer ouvir e tentar pelo menos fazer conhecidos os valores do
Reino de Deus nestes casos?
Em
primeiro lugar, creio que como cristãos, indistintamente devemos levantar a
nossa voz e orar pela paz da cidade.
Queremos evocar, como pastores que
somos, o livro de Jeremias, no Antigo Testamento, quando este convoca os judeus
cativos da Babilônia, dizendo “procurai a paz da cidade..., e orai por ela ao
Senhor; porque na sua paz vós tereis paz.” A violência nos afeta a todos, e
orar é algo que todos nós enquanto comunidade cristã podemos fazer.
Em
segundo lugar, cremos que devemos recuperar a voz profética que foi
tão característica dos homens e mulheres de Deus em meio a uma sociedade
corrompida e cheia de injustiça e violência. Foi assim com Habacuque, num outro
livro do Antigo Testamento, que vendo a iniquidade e a opressão ao seu redor,
clama por respostas, diante de Deus. Qual o porquê de tanta violência, “até
quando clamarei eu e tu não me escutarás? Gritar-te-ei violência e não
salvarás?” A lição que aprendemos com Habacuque é de que o Senhor, reto juiz,
trará juízo no seu próprio tempo e ele nos chama para anunciar este juízo sobre
os perversos, soberbos, violentos, corruptos e aqueles cujo poder é o seu deus.
Em
terceiro lugar, cremos que precisamos resgatar o espírito dos ensinos de Jesus. Talvez,
até quem sabe, fazer uma nova leitura deles, especialmente neste caso de Mateus
5:9. Diante de situações como as que vivemos dia a dia, quando o Senhor nos
fala que são “bem aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de
Deus.” Todo cristão, de acordo com esta palavra de Jesus, deve ser um
pacificador, tanto na igreja como na sociedade.
Concluindo
gostaríamos de alertar para uma questão que muitas vezes não nos damos conta.
Que podemos, através da ação individual transformarmos esse tipo de realidade.
Como? Através do exercício da nossa cidadania. Colocando em prática valores
como dignidade humana, justiça, paz, amor, respeito ao próximo e acima de tudo
consciência crítica diante deste contexto gerador de morte. Fica a
responsabilidade de cada um de nós cidadãos, a fazer uso, por exemplo da força
do nosso voto, para que as estruturas geradoras de morte possam com a nossa
intervenção social, serem vencidas. E isso só acontecerá quando nos
conscientizamos da necessidade que temos de nos voltarmos para Deus e os
valores do seu Reino e termos consciência que ele é o Senhor da Vida e da
História.
Valdir Xavier de França e Ismar
do Amaral
Pastores e Professores de
Teologia em Londrina
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