21 de julho de 2014

Como criar uma família resiliente

Amor”… dizia meu marido no telefone. “O médico me diz que eu estou tendo um infarto e que vou precisar ser internado”.
Nós passávamos um final de semana prolongado na Região dos Lagos e após um dia cheio de atividades meu marido estava acompanhando os estudos da nossa filha mais velha, quando começou a sentir um incômodo no peito e no braço esquerdo. Eu preparava o jantar quando ele apareceu na cozinha e disse que estava com dor no braço. Sem saber o que fazer com aquela queixa eu o encorajei a buscar atendimento médico. Ele saiu sozinho de carro para ir à emergência.
Quando recebi o telefonema dele me dando a notícia e pedindo para trazer itens de higiene para o hospital pareceu que uma tempestade súbita tivesse me levantado. Muitos pensamentos fizeram corrida na minha cabeça enquanto eu coloquei os meus três filhos de 4, 7 e 10 anos para dormir e orientei meu pai que ficaria com eles. Já era quase meia-noite quando eu toquei a campainha da casa de um casal de amigos na vizinhança para pedir uma carona para o hospital – só então desabei e chorei de tensão por um momento.
Nos dias que se seguiram, eu me concentrei em dar conta dos afazeres e das crianças e transmitir tranquilidade a elas, atender os muitos telefonemas de amigos e familiares que ligavam a todo momento pedindo notícias e que também precisavam de uma palavra de conforto, visitar o meu marido nos horários estabelecidos pelo hospital, conversar com médicos e resolver os assuntos ligados ao plano de saúde, de exames e da transferência dele para Rio de Janeiro para ficar perto de casa.
Precisei ouvir de um médico que “paciente assim, eu vou tomar um cafezinho, quando volto, já morreu”. Quando as crianças perguntavam se papai iria morrer, apesar da minha insegurança, precisei afirmar que ficaria tudo bem. Por dentro eu entregava a situação à Deus a cada momento. Eu estava tensa, mas tinha calma para resolver as coisas. Meu marido, com o jeito brincalhão dele, mesmo diante da seriedade do hospital, me fazia rir e eu via que ele estava descansando em Deus.
Após quatro dias, no Rio de Janeiro, ele finalmente passou pelo exame que seria capaz de mostrar exatamente qual era a situação. O médico nos informou que não havia sinal de infarto, e que provavelmente tratava-se de um excesso de zelo por parte do colega que fez o diagnóstico. Eu voltei para casa com vontade de dar gritos e pulos de tanta alegria e alívio. Eu, que já tinha me imaginado viúva, teria meu marido de volta. No dia seguinte ele recebeu alta.
Brincando com amigos depois eu disse que me sentia a “ex-viúva do ex-infartado”. Era uma sensação irreal. O que parecia tão escuro de repente foi dissolvido e aos poucos a vida voltou a um novo normal.
Como preparar a sua família para superar um momento de desafios
Uma experiência destas de “tempestade”, mais cedo ou mais tarde, de alguma forma, atinge grande parte das famílias. Provavelmente você já passou por um momento destes. Às vezes, vêm com o desemprego, com um problema de saúde, de vício na família, violência, conflitos ou decepções. Se o surgimento de uma “tempestade” destas, em algum momento, é praticamente certa, a forma pela qual lidamos com a situação pode ser bem diversa.
Resiliência é uma palavra que a psicologia tomou emprestado da física. Conforme a definição de Froma Walsh, professora na Universidade de Chicago, EUA, a resiliência, no contexto das habilidades humanas, é “a capacidade de se renascer da adversidade fortalecido e com mais recursos. É um processo ativo de resistência, reestruturação e crescimento em resposta à crise e ao desafio” (Walsh, 2005. pg 4). Descreve então a melhor forma de lidar com crises e superar dificuldades.
É interessante que, de acordo com os estudos de Walsh, os fatores que mais contribuem para nos ajudar a superar as tempestades que surgem não são de ordem genética, isto é, hereditário, ou uma capacidade individual intransferível de algumas pessoas bem afortunadas. Pelo contrário, são atitudes e comportamentos bem práticos e facilmente aprendidos. Isto significa que mesmo que não vejamos nenhuma nuvem no horizonte, podemos fortalecer a nossa família para que ela esteja melhor preparada para o que quer que venha enfrentar mais adiante.
A partir da leitura dos achados de pesquisas na área formulei alguns hábitos e atitudes que fortalecem a resiliência familiar. Eu vibro quando vejo na literatura técnica e nos estudos científicos fatos que a Bíblia já descreve. E obviamente muitos destes pontos são desta categoria. Então, se tanto a ciência quanto a Bíblia estão nos apontando o caminho, o que falta para colocarmos isto em prática? Estabeleça hoje a meta de fortalecer a sua família por meio dos seguintes atitudes e hábitos:
Nove Hábitos e atitudes para uma família mais resiliente:
1. Em toda circunstância expresse a sua confiança em Deus.
Mesmo quando não se sente confiante, entregue a Deus todas as suas preocupações e se renda ao plano Dele para sua vida. Faça com que este tema seja incluído nas suas conversas com os seus filhos, deixe-a dominar a sua atitude ao longo do dia, especialmente quando as coisas não saem conforme planejado. Reserve tempo todos os dias para permitir que Deus a fortaleça através da leitura da Bíblia. Exponha todos os seus pensamentos abertamente diante de Deus em oração.  Procure encontrar aprendizados mesmo nas experiências mais difíceis. É fácil ver os lados negativos de uma situação, mas estes não têm o potencial de nos dar esperança. Precisamos procurar e enxergar o que há de positivo, o que podemos aprender e que forças de caráter temos oportunidade de fortalecer no meio da adversidade. Compartilhe estes pensamentos com a sua família e ajude os outros a verem como Deus está presente em tudo, aproveitando toda e qualquer situação para nos fazer crescer e amadurecer.
 “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus”
 2.  Assuma a responsabilidade por fazer tudo que está ao seu alcançe para criar as  mudanças que você deseja ver na vida da sua família.
Não se permita dar desculpas quando você ainda não fez tudo que está ao seu alcançe. Muito do que acontece nas nossas vidas é simplesmente resultado de nossas próprias ações. O livro de Provérbios nos fala sobre a necessidade de semear se queremos colher, sobre a importância de estar atento aos rebanhos, isto é, àquilo que vai nos dar o nosso sustento, de nos esforçarmos e nos disciplinarmos e não nos deixar deter pelos obstáculos que surgem. Dê o exemplo para os seus filhos nesta área. Não reclame das circunstâncias, do chefe, nem se coloque no lugar de vítima. Você é capaz de fazer muito mais e criar mudanças maiores do que imagina. Atribui-se ao autor Charles R Swindoll a frase: “Todos estamos de frente com grandes oportunidades brilhantemente disfarçados como situações impossíveis”. Onde estão as oportunidades na sua vida e na vida da sua família? Se ainda não encontrou; continue procurando.
“Olha pelo governo de sua casa, e não come o pão da preguiça” (Pv 31:27)
“Procura conhecer o estado de suas ovelhas; põe o teu coração sobre o gado”  (Pv. 27: 23)
3. Alimente conscientemente o sentimento de equipe e de pertencimento na sua família.
Isto pode ser feito de várias formas:
-  Distribua tarefas aos seus filhos de acordo com a idade e a capacidade de cada um e imprima na consciência de todos a ideia de que “aqui em casa todo mundo se ajuda porque somos uma família”. Quando trabalhamos juntos criamos sentimentos de companheirismo e cooperação.
-  Programe atividades de lazer em família para reforçar a interação e para criar memórias e experiências compartilhadas. No dia a dia às vezes é difícil ter tempo para conversas mais aprofundadas, mas uma saída por mais simples que seja, ou uma noite de jogos ou de leitura em voz alta de um bom livro de ficção, oferece oportunidade para compartilhar pensamentos.
4. Crie estabilidade através de rotinas e tradições que se repetem.
Estas repetições diárias, semanais ou de épocas específicas durante o ano, transmitem valores, dão às crianças uma sensação de que a vida é previsível e segura e oferecem oportunidades para estar juntos e expressar cuidado e carinho.
- Crie rotinas, isto é, um conjunto de atividades que sempre são feitas na mesma ordem. Um exemplo seria a rotina para colocar as crianças para dormir: dar banho, jantar, escovar os dentes, ler uma história, orar com eles e dar um abraço bem forte em cada um.
-  As tradições são uma forma de ensinar algo sobre o que você considera importante. Escolha com cuidado as tradições e hábitos familiares que quer cultivar. Crie tradições e hábitos novos para comunicar os seus valores.
5. Assuma a sua autoridade como pais dentro de casa.
Isto não significa autoritarismo; mas responsabilidade. Crianças precisam de limites para se sentirem protegidos.
-  Estabeleça consequências para os erros mais frequentes dos seus filhos. Não decida sobre a disciplina baseado na intensidade de seu sentimento mas tenha um esquema pré estabelecido em que é descrito qual será a consequência para os atos. Não utilize consequências severos, apenas constantes e previsíveis. Mantenha a calma e aplique a consequência.
-  Não solicite das crianças e adolescentes que assumam funções que são seus como pais. Eles podem e devem colaborar; mas não assumir a responsabilidade que é de um adulto.
6. Cultive a conversa aberta e transparente sobre pensamentos e sentimentos, especialmente em tempo de desafios.
Permita que opiniões sejam expressas, é claro que de forma que respeita as pessoas.
Uma forma de dar espaço para estas conversas é insistir nas refeições juntos, à mesa. Mesmo que não vá contribuir para que você ganhe o prêmio por popularidade, proíba qualquer distração na hora da refeição, especialmente as tecnológicas. Nada de jogos, celulares, televisão etc. E sente-se também, mesmo que não pretenda comer, para ter este momento de convívio. Concentre-se em ouvir e procure compreender o que cada um vive nos ambientes fora da casa que você não frequenta: a escola, o trabalho, as atividades e os grupos de amigos de seus filhos. O que eles estão aprendendo nestes ambientes, que influência eles estão tendo? Não assuma que você já sabe a resposta a estas perguntas. Ouça. E contribua com o seu pensamento a respeito.
7. Não tenha medo de permitir que os seus filhos passem por frustrações.
Pelo contrário, treine até mesmo as crianças pequenas na arte de saber esperar. Crianças pequenas não têm talento nato para paciência e por isso esta habilidade precisa ser cultivada. Quando seu filho em voz alta exige algo (que não constitui uma emergência), peça para ele esperar e termine tranquilamente o que está fazendo antes de atendê-lo. Frustrações e demoras fazem parte da vida diária e seus filhos só vão se beneficiar se aprender a lidar com isso. É importante aprender a ser flexível, a saber resolver as coisas de outra forma do que o usual e aceitar que nem sempre as coisas podem ser do jeito que se esperava. Então, para dar um exemplo de como treinar os seus filhos em flexibilidade:  varie o cardápio, não atenda a todos os gostos e desgostos, tenha a expectativa de que crianças podem e vão comer legumes, peixe, enfim, toda comida que é boa e saudável para eles.
8. Tempere o clima na sua casa com bom humor.
Seja irreverente com o seu próprio sofrimento. Quando conseguimos ver o lado cômico de uma situação difícil isto tem o efeito imediato de cortar um pouco de seu efeito e nos dá distância para pensar melhor sobre o que está acontecendo. Brincadeiras sadias (não ofensivas) tornam o convívio dentro de casa mais leve e agradável. Se precisar de um pouco de ajuda, veja filmes como  “Em Busca da Felicidade” ou “A Vida é Bela”. O fato é que a nossa experiência de algo depende da história que contamos para nós mesmos a respeito da situação. Você já deve ter passado perto de um amigo na rua e o cumprimentou mas ele não retribuiu o cumprimento. O seu pensamento pode ter criado várias hipóteses sobre aquilo. E estas hipóteses também acabam orientando a sua ação. Isto é, se você pensou: “Puxa que rude, o que foi que eu fiz para ele?”, provavelmente você continuará andando e pode criar um pouco de amargura e algum distanciamento para com aquele amigo.
No entanto, se você pensou “Opa, ele não deve ter me visto/ouvido e deve estar bem absorto nos seus pensamentos” pode ser que você corra atrás dele para lhe cumprimentar novamente e pode acabar descobrindo, pelo o que ele diz, a razão real dele não ter correspondido ao seu cumprimento inicial. Quem sabe ele está enfrentando um problema e você poderia ser parte da solução? A nossa realidade depende do nosso olhar para com a vida. Que tipo de realidade você prefere criar?
9. Esteja integrado na sua comunidade, na sua igreja e no seu grupo de amigos.
Leve a sua família a interagir com outras famílias. A vida é mais leve quando a carga é compartilhada. Deixe cair as fachadas, compartilhe com pessoas da sua confiança as dificuldades que está enfrentando. Para sua surpresa pode descobrir que você não detêm o patente daquele problema. Compartilhe também as conquistas e o que te dá alegria. Outra pessoa pode estar precisando ver as coisas de um ponto de vista mais positivo.
Dizem que nós nos tornamos semelhante às pessoas com os quais passamos a maior parte do nosso tempo. Escolha portanto os seus amigos mais próximos com cuidado mas esteja aberto para interagir de forma amigável com todos que fazem parte dos contextos onde você vive.
Espero que algumas destas dicas sirvam para auxiliar você a tornar a sua família ainda mais forte. Que Deus lhe ajude a fazer a sua parte e a entregar a Ele o que somente Ele pode fazer.
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Por: Anna Korkman
Para conhecer melhor a escritora, clique aqui.

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aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna.
João 4:14

E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida.
Apocalipse 22:17
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