Cristo, felicidade, e meio ambiente
Mark
Greenwood, Abril 2011
Cada família deseja o melhor para seu lar e para todos que
ali vivem: Filhos, pais e agregados. Cada família cristã acredita que em Cristo
tem o melhor, pois Ele veio para dar vida, vida em abundância, vida plena. No
entanto, temos que reconhecer que muito da busca de vida e alegria em nossos
lares é moldado por desejos implantados em nossas mentes não por Cristo, mas
pela cultura consumista na qual vivemos.
Queira ou não, a felicidade familiar contemporânea é
direcionada em grande parte pela filosofia de desenvolvimento econômico seguida
pela maioria dos governos, empresas e fábricas do mundo contemporâneo. O
combustível deste desenvolvimento são as nossas compras, estimuladas pela
propaganda e definidas nas conversas do tipo “mãe, a senhora viu o novo celular
que lançaram esta semana?”, “pai, não compra suco não, quero refrigerante”, “amor,
vi um televisor tão bonito naquela loja”.
Contudo, este constante desejo por algo dito “melhor” tem as
suas consequências para a qualidade de vida em geral no mundo em que vivemos:
Tudo que nós consumimos é retirado da terra ou do ar. Tudo que produzimos,
especialmente produtos plásticos e sintéticos, tem um certo efeito poluidor.
Tudo que descartamos para repor com algo mais novo ocupa um espaço
anteriormente ocupado pela criação de Deus.
Existem indícios de que o atual modelo de desenvolvimento
dominante não seria sustentável se todo ser humano tivesse acesso a tal desenvolvimento.
O que acreditamos ser o melhor para nossos filhos hoje às vezes não vai ser o
melhor para o futuro deles. Os bens de consumo que tanto desejamos desfrutar e
com os quais queremos abençoar as nossas famílias podem tornar a própria vida
no planeta inviável para os nossos descendentes. Para entender isso podemos
contemplar o conceito da Pegada Ecológica. A Pegada Ecológica de cada um
corresponde a uma estimativa da quantidade de recursos naturais necessária para
a produção daquilo que a pessoa consome, e para a absorção dos resíduos gerados.
Conforme estatísticas divulgadas pela instituição A Rocha Brasil (em palestra
de Gínia Bontempo realizada em abril de 2009 em Fortaleza), caso todos
tivéssemos uma Pegada Ecológica como a média da dos norte-americanos seriam
necessários cinco planetas Terra para nos sustentar.
Princípios
bíblicos
A partir desta observação refletiremos em alguns princípios
bíblicos que podem nortear o nosso comportamento cristão em relação ao consumo
nos nossos lares e à sustentabilidade da vida. Primeiro vamos pensar no texto
de Levítico 25.1-12, no qual encontramos uma ideia surpreendente para nós - que
pertencemos a uma cultura de produção e consumo desenfreados -, a ideia de um
descanso para a terra a cada sete anos.
Em seu comentário sobre esta passagem o teólogo René Padilla
observa no texto “Economía
humana y economía del Reino de Dios” o seguinte: “O descanso da terra não é um
fim em si mesmo (...) o descanso é (...) em honra ao Senhor (...). Estas leis
destacam a importância de cuidar de recursos naturais, representados aqui pela
terra. A ideologia do crescimento econômico ilimitado não deixa espaço para
repouso, nem para os seres humanos, nem para a criação (...). Estas leis nos
convidam a criar uma economia concebida como (...) ‘a economia do suficiente’. A
economia do suficiente prioriza um estilo de vida singelo e deixa lugar para o
descanso, porque coloca o relacionamento com Deus, com o próximo e com a
criação acima de interesses materiais (...) e questiona as premissas
fundamentais do sistema econômico atual de que a vida humana consiste na
quantidade de bens que se possui”.
O conceito de cuidar da Terra como um ato de honra a Deus
nos leva a nossa segunda passagem bíblica: Colossenses 1.15-16. Estes
versículos, de uma certa forma, servem como uma contraproposta à motivação
normal para nos engajarmos no chamado “desenvolvimento sustentável”. A saber, o
desejo de um crescimento humano que leva em conta a preservação de condições
para uma vida humana no planeta. James Jones observa em seu livro “Jesus e a Terra”
que a declaração de fé em Colossenses conduz “a uma perspectiva elevada da
criação. Ela é dádiva de Cristo. Respeitar (...) a terra é respeitar toda a
ordem criada. A criação não existe para a raça humana, mas para Cristo. A terra
existe para nos deleitarmos nela, para a administrarmos, para a servirmos, mas,
acima de tudo, ela existe apenas para Cristo, e não para nós”. Vimos em
Levítico então que, não obstante a clara preocupação de Deus com a sustentação
da vida humana, a terra não é nossa para desfrutarmos da maneira que bem
quisermos. Em
Colossenses Paulo nos ensina que a terra é propriedade de
Cristo, não nossa, apenas entregue a nós para nela vivermos com plenitude de
vida.
Um terceiro conceito bíblico que devemos ter em mente quando
pensarmos sobre a sustentabilidade de vida na terra é o de pecado. Precisamos
reconhecer que são pecados como ganância, ambição descontrolada, cobiça e
insatisfação com a vida que temos que levaram a humanidade a mergulhar tão
profundamente na filosofia de consumismo e crescimento econômico infinito.
Consumidor sensatos vivem com uma suficiência sustentável.
O que isso significa em termos práticos para nosso lar? Em
primeiro lugar, cada um precisa esforçar-se para reduzir a Pegada Ecológica de
sua família, e para isso trazemos duas sugestões de James Jones: Seja um consumidor
sensato, e viva com uma suficiência sustentável.
Consumidores sensatos
entendem o fato de que para viver precisamos consumir, utilizar recursos da
terra. De fato, nem tudo que consumimos no mundo atual é fruto do pecado. Pelo
contrário, muitos produtos da vida contemporânea foram desenvolvidos pensando
no bem do ser humano e têm nos proporcionado mais saúde, mais lazer, mais
educação, mais conhecimento da terra e mais qualidade de vida. Então não
devemos entrar em uma melancolia que nos nega a felicidade proveniente de
produtos tecnológicos. Por outro lado, precisamos desfrutar de uma maneira
responsável, comedida, modesta e contente. Esta percepção é diametralmente
oposta a padrões pecaminosos e egoístas de produção e consumo.
Então, “consumidores sensatos” são pessoas que pensam em
consumir de uma maneira que tenham um impacto ambiental reduzido e que educam os
membros da sua família a fazerem o mesmo. Existem muitas maneiras por meio das
quais podemos ser sensatos no consumo: Recusar sacolas plásticas no
supermercado, levando sempre bolsas de pano (ou plástico reaproveitado) para
carregar as compras, desligar o chuveiro enquanto passamos sabonete no corpo,
botar o chuveiro na água fria durante o verão, não jogar nenhum papel fora sem
usar os dois lados, usar retornáveis no lugar de descartáveis, pedir embalagem
de papel no lugar do isopor ou plástico na padaria e cultivar plantas ou
árvores no quintal para purificar o ar degradado. Se você tem carro, deve dar
preferência a etanol no tanque e mesmo assim sempre ir de ônibus quando for
possível. Na hora de construir podemos erguer casas ventiladas que dispensam
tanto o uso do ventilador como do ar-condicionado. Além disso, devemos
considerar que as atitudes tomadas como família, junto com os filhos, podem nos
proporcionar momentos prazerosos de valorização da terra.
Viver com uma suficiência
sustentável implica sempre em perguntar antes de comprar algo se
realmente precisamos deste produto. Esta pergunta deve ser realizada na hora de
elaborarmos a lista de compras antes de ir ao supermercado, à rua ou ao
shopping. Por exemplo, 10 anos atrás ninguém sabia o que era um televisor de tela
plana, ou slim. Quando estes aparelhos foram lançados milhares de TVs de tubo
(a tradicional) ficaram encostados no país todo. Agora, as grandes corporações
lançaram as TVs de LCD e LED, objetos de desejo de muitas pessoas. Por que? O
fato é que compramos não porque precisamos (pois ainda podemos assistir
programas e DVDs no televisor antigo), mas compramos porque ao entrar nas lojas
os produtos estão na nossa frente, sendo apresentados como “ofertas imperdíveis”.
Porém, o que realmente é imperdível é a natureza ao nosso redor, que nos
sustenta com seus frutos, águas e ar, mas que está se perdendo por ser usada
como lixão para televisores de tubo, tela plana e slim que não queremos mais.
Somos confrontados com esta problemática em toda escolha de
compra que realizamos. Por que só usamos barbeador descartável? Não faz mais sentido
sempre usar a mesma haste e jogar fora só a lâmina? Por que trocar o celular de
1GB que não quebrou e que ainda faz ligações por um de 2GB só porque tem uma
oferta melhor? E quando quebra, não é melhor consertar do que jogar fora? O
liquidificador está pifando, vai consertar ou comprar um novo? De onde vem a
matéria prima para fazer o produto novo? Precisa de uma mesa de cozinha nova,
vai ser de plástico ou de madeira reflorestada? O mesmo tipo de pergunta pode
ser feita para tudo o que considerarmos “necessário” para a vida do nosso lar.
Atitudes demonstradas diante de prateleiras podem nos dar
uma satisfação profunda e alegria para as crianças, pois sabem que estamos
contribuindo para um futuro mundo mais seguro e limpo. Precisamos transformar a
nossa maneira de enxergar as escolhas de consumo no lar, o que aos poucos fará
com que o padrão de consumo se torne naturalmente mais harmonioso com a criação
de Deus.
Reduza,
reuse, recicle
Os princípios de consumo sensato e suficiência sustentável
são resumidos por ambientalistas nos “três Rs”: Reduza, reuse, recicle. Ao seguir este lema torna-se possível
cada lar reduzir a sua Pegada Ecológica. Este é um bom lema para ensinar aos
filhos. No entanto, precisamos confessar que isso não é fácil, pois somos constantemente
bombardeados por incentivos para consumirmos sempre mais. A propaganda milita
em nossos sentimentos contra as escolhas sustentáveis que fazemos. Na família,
tanto pais quanto filhos, sentem a pressão para comprar e se conformarem. Então
precisamos de um quarto R: Recuse.
Como o teólogo René Padilla nos adverte, o padrão de vida consumista, integral
da nossa cultura familiar contemporânea, é fruto de desejos, ambições e cobiças
desenfreados na sociedade humana. Porém Paulo nos adverte: “Não vos conformeis com
este século” (Romanos 12.2). Para o crente de hoje isso implica, entre outras
coisas, recusar a conformar-se ao padrão de consumo estabelecido na nossa
cultura.
Vida
plena
Para terminar quero sugerir que, além dos “três (ou quatro)
Rs”, possamos pensar em “três Cs” para nortear o padrão de vida nos nossos
lares e a educação que damos aos filhos:
Cuide do mundo criado por Deus. Cuide das
futuras gerações, que herdarão de nós o mundo do jeito que o deixarmos. Assim
seremos bons mordomos e faremos para os outros o que gostaríamos que eles
fizessem a nós.
Crie plantas e árvores. Crie produtos artesanais
e manufaturados em harmonia com o meio ambiente. Assim refletiremos o caráter
do nosso Deus criador.
Celebre a vida plena que é possível em Jesus,
que veio para que tenhamos vida em abundância. Assim não mais o nosso consumo será
fonte da nossa alegria e suficiência, mas a nossa vida plena em Cristo.
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